Tinha uma época em que eu estava viciada em tarot. Praticamente toda semana eu queria que as cartas me dissessem se eu estava "fazendo a coisa certa" e "cumprindo o meu propósito". Como se o universo tivesse uma sinopse da minha vida e eu devesse buscar freneticamente respostas lá fora para saber qual era a minha missão aqui e se eu me encontrava no caminho programado.
Naquele momento, eu estava me formando como advogada e, paralelamente, trabalhando com Astrologia, Numerologia e Constelação Sistêmica. Transitava entre universos praticamente opostos: um baseado em leis, disputas de poder e processos judiciais; outro permeado pelo Ser, pela conexão humana e intuição.
Uma parte conservadora minha gritava, morrendo de medo, que eu deveria prestar concurso para ter segurança, estabilidade, prestígio e impacto social. Outra parte intuitiva minha sussurrava para eu abraçar esse trabalho terapêutico intangível, não formatado, cheio de incertezas... e também cheio de amor.
Preocupada e insegura, fui conversar com o Sr. Rômulo, um mentor espiritual muito querido e sábio, esperando que ele me revelasse algo sobre o meu propósito. Meu cabeção achava que ele ia lançar uma profecia mais ou menos assim: "Ser terapeuta e trabalhar com essas coisas místicas que você gosta não é o caminho. Você nasceu para ser juíza, contribuir com a justiça no país e ajudar milhares de pessoas. Não será fácil... levará muitos anos para você chegar lá. Mas esse é o seu destino."
Surpreendentemente, eis o que o Rômulo responde: "Faça o que te traz alegria. E pare de ficar mudando de ideia!" – simples assim. Sem megalomanias ou fardos. Meu ego calou a boca e saiu de cena com o rabo entre as pernas.
Buda disse que nossa mente é muito limitada para compreender o ilimitado. Eu não sei se existe um plano divino detalhadamente traçado, se minha missão veio definida ou está sujeita a alterações, se o meu arbítrio é totalmente livre... mas sei o que deixa meu coração alegre, curioso e dedicado. E agir de acordo com isso tem tornado minha vida muito mais satisfatória.
Te convido a refletir se a busca pelo seu propósito de vida tem te aprisionado em vez de expandir seus horizontes, suas capacidades e sua felicidade. Sinto que é mais frutífero escolher como queremos viver cada dia no lugar de profetizar o para quê da nossa existência.
Vamos caminhando pelo mistério com alegria e consistência... o sentido maior do percurso, quem sabe, descobrimos depois!
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