A epigenética é uma emergente área de pesquisa científica que estuda como eventos e estressores ambientais são capazes de mudar a forma como os nossos genes se expressam e como essa mudança pode ser passada para a geração seguinte.
Um estudo emblemático nessa área feito em 2013 por uma equipe de pesquisadores em Jerusalém mostrou que os filhos, assim como os netos e outros descendentes de sobreviventes do Holocausto, são especialmente propensos à depressão, ansiedade e pesadelos.
Ainda estamos descobrindo como a transmissão biológica do trauma efetivamente ocorre, mas não é difícil perceber que feridas não curadas dos nossos ancestrais estão presentes em nós – na nossa fisiologia, no nosso sistema nervoso, nas lentes através das quais enxergamos o mundo e no nosso comportamento.
Condicionamentos familiares são transmitidos nas interações cotidianas entre pais e filhos. O que chamamos de "traços de família" normalmente são adaptações ao trauma e refletem experiências intensas de quem veio antes de nós, ligadas à uma grande ameaça, como escassez, guerra, abandono, acidentes, opressão, marginalização...
Na maioria das vezes sem perceber e sem escolha, absorvemos e reproduzimos cargas emocionais, crenças extremas e padrões de comportamento do nosso sistema familiar, muito ligados à necessidade de sobrevivência, que embora não tenham conexão com a nossa essência ou as nossas circunstâncias de vida atuais, acabam afetando profundamente a nossa saúde mental.
Uma boa notícia: Se transformamos a nossa relação com o passado em vez de ignorá-lo, nós não temos que repeti-lo. E as crianças das próximas gerações não precisarão se curar das mesmas dores que nós precisamos hoje...
Como diz o terapeuta Terry Real: “A patologia [o trauma] familiar corre de geração em geração como um incêndio na floresta, destruindo tudo em seu caminho, até que uma pessoa em uma geração tenha coragem de se virar e enfrentar as chamas. Essa pessoa traz paz aos ancestrais e poupa os filhos que seguem.”
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