Vou expressar minha opinião de uma vez, espero que você não leve para o lado pessoal: ser perfeccionista não é atraente, é brochante.
O perfeccionismo não implica perfeição, nem mesmo qualidade. Ele nos mantém tão fixados na performance ideal, que nos desconecta do que de fato seria útil no momento presente. É uma bela desculpa para não sermos vistos como somos e fazer o que é necessário.
É brochante, porque afasta das nossas vidas a criatividade, espontaneidade, inovação, fluxo, autenticidade, leveza, prazer, curiosidade, diversão... e tudo de incrível que brota quando nos permitimos tirar a armadura e estar vulneráveis.
Percebi que a busca infindável pelo perfeito também afasta as pessoas ao nosso redor. Quando eu perco um tempão vendo trailers para escolher o "melhor" filme, revisando por anos os textos que eu quero publicar ou quando deixo de cantar com medo de desafinar, dá a sensação de que as pessoas desistem de mim.
E é claro que elas desistem! Ainda que temporariamente. É irritante e cansativo para todo mundo. Talvez pessoas queridas estejam deixando de te surpreender com um presente ou compartilhar um sonho com você, achando que não seria bom o suficiente para os seus parâmetros ideais. Aconteceu comigo. E é exatamente assim que eu me sinto perto de outros perfeccionistas: intimidada e sem vontade de brincar.
Mas por que é tão difícil soltar o perfeccionismo?
Suas raízes podem ser profundas. No meu caso, muita terapia e constelações familiares depois, percebi que carregava uma dor ancestral. Venho de uma família japonesa em que, sistemicamente, imperou uma regra por gerações: ter que ser e fazer o melhor, independentemente de isso custar a sua saúde ou bem-estar. (Meu pai é aquela pessoa que fica do seu lado vigiando se você picou a cebola em cubos milimetricamente uniformes.)
É tão interessante que no Japão, onde a perfeição é absurdamente valorizada, coexiste um conceito denominado wabi-sabi, a arte de descobrir e apreciar a beleza na imperfeição, impermanência e incompletude que caracterizam a vida.
Eu acho maravilhoso buscar a excelência. Mas acredito que esse exercício precisa ser feito com humildade e simplicidade. Oferecer e valorizar o que temos disponível hoje em nós abre espaço para a inspiração criativa, a conexão real com as pessoas e a autorrealização de forma saudável.
Agora o holofote vai na sua direção: Quando você é orientada(o) pelo ideal e acha que precisa mostrar uma faceta perfeita para a sociedade, como você se sente? Seu corpo fica mais tenso ou solto? Sua mente fica agitada ou serena? Sua vida fica mais leve ou pesada?
Não sei você, mas eu não quero ter que fazer fisioterapia toda semana para destravar minha coluna. Às vezes, uma avaliação racional de custo-benefício é importante para verificar se as nossas escolhas fazem sentido e estão nos servindo. Se o sonho da perfeição te torna uma pessoa mais rígida e tira a sua alegria de viver, te trago a esperança de que dá para mudar!
Como? Desenvolvendo um olhar curioso e compassivo para dentro de si, em busca de compreensão das raízes e dinâmicas que sustentam o perfeccionismo na sua vida e te impedem de tomar decisões que deixem corpo, mente e alma felizes.
E lembrando que sempre vai ter o que melhorar... então, vamos desfrutar a vida como ela se mostra, mesmo com rachaduras ou cebolas mal picadas.
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